quarta-feira, 22 de junho de 2016

A VOLTA



Voltei. Estive fora por motivos de saúde, mas cá estou de volta, espero que pra nunca mais sair.
Tem um versinho gaúcho perdido na minha memória que diz:
" Saudade é dor q belisca/não se sabe dizer onde/ é tropilha muito arisca, q no passado se esconde". 
Pois minha saudade doía e eu sabia onde: no meu coração que ama essa cidade e sua gente: Fortaleza. Lembro de Quintana falando de Porto Alegre:
"Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...) .
Sinto um amor todo meu por minha por Porto Alegre, essa cidade que me acolheu tantos anos, com seus cafés, esquinas geladas, bares quentes, Beira- Rio, Kleiton e Kledir, Lupicínio Rodrigues... e, ah, as mulheres gaúchas,que a gente olha de baixo pra cima. Mas essa poesia hoje me lembra Fortaleza.
Fortaleza tem tantos encantos descobertos já, mas tantos cantos que não conheço; principalmente os becos e a periferia me fascinam com sua multidão de bicicletas, motos, cadeiras na calçada, moleques jogando bola, povo de Bíblia na mão caminhando pra Deus. Gente sem futuro, na maioria, mas com um presente tão gente. Vejo mais beleza nas casas sem reboco, com varais improvisados na frente, do que nos prédios cheirando tinta fresca e perfume francês da Aldeota.
Não tem como não lembrar Vinícius:
"Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar
São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar"
Amo essa gente simples de Fortaleza, que come quentinha na rua, gente com uma crença inocente, quase medieval, que se benze em cada igreja e sendo pobre, ainda dá esmola aos mais pobres. Mas amo também a beleza das mulheres da Terra do Sol, da Vira Verão... Não desgosto do luxo da aldeia. Acho único no Brasil, apesar de triste e emblemático, esse apartheid q divide a cidade da José Bastos pra lá e da José Bastos pra cá. De um lado o povo na rua, do outro o povo fechado entre câmeras e guardas.
Como já escrevi, sou canalha amante de duas mulheres, Porto Alegre e Fortaleza. Mas hoje, sinto cada vez mais que, como disse Veríssimo, Porto Alegre é um belo lugar pra se voltar. Nunca a abandonarei, meu lanche, minha segunda opção, como canta um forró aqui. Mas hoje Fortaleza ocupa um espaço maior no meu coração. Parodiando Montenegro diria que metade do meu coração é Fortaleza e a a outra metade, quase toda também. Bom voltar à cidade. Bom voltar ao blog. Voltem comigo. Boa tarde!