quarta-feira, 13 de julho de 2016

A MULHER AMADA NUA

Quem troca de corpos com frequência, só tem troca de corpos. Não que isso seja ruim, mas é incomparável à troca de corpos com almas. Aliás não é troca, é toque. Dormir com a mulher amada, fazer amor com a mulher amada e acordar ao lado da mulher amada é tocar sua alma, mesmo que quando vc depois a olha, nua, atirada entre os travesseiros, não sabe por onde ela anda.


Olhar a mulher amada dormindo, nua, mergulhada nos travesseiros é um momento/sentimento único. Olhar aquele corpo, ali estirado, mergulhado no seu mundo, provoca uma multidão de pensamentos. 
Aquele corpo é o corpo da alma que eu amo, e onde andará ela nesse instante? Sonha com o quê? Por onde vagará?, nadando em mares verdes, andando por matagais perigosos, pratos saborosos, outros braços? Ah, se desse para entrar nos seus sonhos agora e descobrir isso que nem ela desvenda, sua alma misteriosa...
Aquele corpo é o corpo que eu amo. Que em noites de tempestade, sacode a terra com seus frêmitos, gemidos e gozos. Que em noites de calmaria, se aconchega ao meu corpo e deixa seu perfume invadir meus pulmões, seu calor aquecer meus pelos, e sua respiração ao meu ouvido exaltar o estar vivo ao lado dela, duas vidas unidas em corpo e alma.
Quando olho sua pele branca, onde veias parecem rios que correm cheios de seiva para o seu coração que pulsa ao som do mistério da vida e do nosso encontro tão desencontrado, tudo tão lindo, tão louco, tão calmo, tão tudo...
Quando vejo seus cabelos ‘assanhados’ pelo sono e pelos meus dedos, que não se cansam de correr entre eles, fios de ouro; de tocá-los, harpa silenciosa, percebo o quanto é belo vê-la tão ‘desproduzida’, tão minha, tão nós.
Isso é olhar para a mulher amada dormindo. Muito diferente de olhar aquela estranha que passou a noite com você e que ao acordar, assim meio sem jeito e sem assunto, os dois forçam uma intimidade baseada na noite que tiveram, mas que por mais prazerosa que tenha sido, foi isso apenas, a noite prazerosa que tiveram. E pode nunca mais se repetir.
Não há comparação ao se acordar ao lado da mulher amada, e contemplá-la com sua beleza, até com o que para ela é não beleza, uma estria aqui uma celulite aIi... porque a mulher amada está acima disso, até porque aqueles ‘defeitinhos’ são a história do seu corpo, as marcas do seu tempo. São ‘indefeitos’.
Quem troca de corpos com frequência, só tem troca de corpos. Não que isso seja ruim, mas é incomparável à troca de corpos com almas. Aliás não é troca, é toque. Dormir com a mulher amada, fazer amor com a mulher amada e acordar ao lado da mulher amada é tocar sua alma, mesmo que quando vc depois a olha, nua, atirada entre os travesseiros, não sabe por onde ela anda. Mas vc sabe que está na alma dela, de alguma forma, e sabe que no corpo dela estão as marcas do seu, e vice versa. E o vice versa é isso, é amor, é corpo e alma.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O "DISBULHADOR" DE TRISTEZA


Da série "Andarolhando a cidade"



Rua Pedro Pereira, Fortaleza, 11h30. Seu Luiz “disbulha”, como diz, o feijão verde, um prato típico cearense. Com uma habilidade que me encantou, parei a olhar e, querendo ser gentil disse: “Bah, como o senhor é rápido nisso”. Sem levantar os olhos para mim, ele falou: “Tem valor nenhum isso, qualquer um faz”. Respondi: “Assim, como o senhor faz ainda não tinha visto.” Efeito zero. “Pois me dê um quilo”, pedi. Aí ele me olhou com seu olhar triste e agradeceu. Sorri para ele, agradeci, e saí pelo centro de Fortaleza com um quilo de feijão verde, sem saber o que fazer com aquilo. Pensei, ah, se cada vagem debulhada debulhasse uma tristezinha também... Ah, se ele soubesse que faz parte do encanto dessa cidade, essa gente humilde que vende tudo que nem se imagina. Essa gente que nem imagina o encanto que produz. Essa gente que é a alma dessa cidade. Seu olhar não seria tão triste. Mas somos assim, a beleza está em quem vê. A beleza de “disbulhar” o milho verde. Me fez bem nessa manhã. Mesmo no seu olhar triste e desconsolo eu vi beleza. A beleza do humano, por vezes demasiado humano, com suas dores e suas flores. Como disse Caetano: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E lá me fui pelo centro, com um quilo de feijão triste nas mãos. Ou melhor, um quilo de feijão verde servido por mãos tristes. Pra mim tudo era belo.

A BORBOLETA E O DINHEIRO


Da série Andarolhando a cidade"


Oliveira Paiva, Fortaleza, 9h30
As pessoas passam fechadas
nos seus carros
Caras sérias, amarradas
Correndo atrás do dinheiro
Aspereza
Da vida
Do lado de fora na calçada
Uma borboleta beija uma flor
Ninguém vê a beleza
Natureza viva ali do lado
A conta é o que conta
O sinal abriu, é o que importa
Acelerar... pra onde?
Viramos natureza morta

quinta-feira, 7 de julho de 2016

SOL E CHUVA



A chuva veio e foi
O sol veio e foi
Tão nem aí pra gente
Pior é você
Que passa por mim
e nem Oi
Só Tim e Claro

quarta-feira, 6 de julho de 2016

QUANDO VOCÊ CHEGAR



Antes de beijo, quero abraço, porque no abraço há um mistério maior do que no beijo... , todo mundo beija e quase todo mundo sabe beijar, com ou sem emoção... O abraço é diferente, ele envolve o corpo, ele enlaça as auras, ele é mais completo e por isso mais misterioso.


Você está para chegar e isso me deixa entre ansioso, feliz, e com medo. Não há uma palavra só pra definir o que sinto. E teriam outras ainda, muitas, mas essas me parecem resumir o que sinto. Porque você vem, o tempo não passsssa, cada hora é menos uma, mas parece muuuito mais. Cada dia é menos um, mas ele parece parado no tempo, como aquela velhinha que mora no andar de baixo. Tenho a impressão que não foi ela que parou no tempo, foi o tempo que parou nela. Caminha do mesmo jeito, todo dia faz tudo sempre igual, rega suas plantinhas, vai no mercadinho, conversa com a rua; a casa tudo no lugar, a mesma novela reprisando há 10 anos.
Ansioso, porque quero ver teus olhos nos meus, ou melhor, ver os meus dentro deles. Antes de beijo, quero abraço, porque no abraço há um mistério maior do que no beijo. Beijo é tátil, é mais, digamos, direto, todo mundo beija e quase todo mundo sabe beijar, com ou sem emoção. Estou falando de beeeijo, entende? Esse Beijo é o piloto automático da tesão e o irmão-gêmeo da concessão, da falsidade e do interesse. O abraço é diferente, ele envolve o corpo, ele enlaça as auras, ele é mais completo e por isso mais misterioso. O abraço está ligado à emoção, o beijo ao desejo, nem sempre verdadeiro. O abraço é o humano-alma; o beijo é o humano-bicho. Sempre apreciei ver as chegadas nos aeroportos, nas rodoviárias; lá têm muito mais abraços que beijos; tem beijinhos, mas não beeeijo. Parentes, amigos, namorados, casais, o abraço sempre é transmissão de energia, de vibração, como se quiséssemos dizer “eu gosto de você, que bom que você está aqui”. No abraço apertado corações quase se tocam, um escuta o outro. O aperto de braços nas costas parece querer fundir dois em um. Por isso quero teu abraço primeiro. Depois pode ser um beijinho. Depois....
Sinto medo, porque o novo sempre trás e leva isso na sua mala. Quando a gente viaja, sempre vai escondidinho (as vezes escancarado) entre as camisetas, calças e cia um quê de medo, pelo menos de expectativa pelo que virá, seja passeio, negócio, ou isso que está acontecendo entre nós. Você certamente traz, também, o medo aí no meio de suas toalhas, jeans e soutiens. O novo e o medo andam de mãos dadas. E quando suas mãos, quem sabe suadas e trêmulas, tocarem as minhas, certamente suadas e trêmulas, o mistério começará a se desvendar. Ou andarão juntas pelos caminhos do tempo, ou se separarão levadas pelo vento. Mas você precisa chegar. A morada está pronta. Mas você precisa chegar. Já tem flores pra regar. Ou murchar. Tem música pronta esperando você pra tocar. Mas você precisa chegar. Tem até vinho barato e panelada pronta, congelada. E tem uma montanha de gelo no meu coração que começa a derreter feito a geleira Perito Moreno, que quando derrete e desaba, já foi chamada de oitava maravilha do mundo. Venha e bote-a por terra. Seja a maravilha do meu mundo. Chega logo, porque até o logo está longo demais.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

MULHER SE PRODUZ PRA QUEM? PRA HOMEM?



Nós homens nunca vamos saber o que sente uma mulher produzida, que se acha bonita e gostosa, pronta pra sair pro mundo e enfeitiçá-lo. Mas não se engane, ela não se arruma pra você. 



Cena comum a todo o homem: a espera pela mulher que se arruma. E  temos sempre  a crença ou a ilusão de que aquela ‘outra’ mulher que vai irromper na sala se embelezou, se fez outra, diferente da mulher de todo dia, pra sair com a gente. Em outras palavras, se produziu para nós. E você já reparou como a diferença é grande? Não é só no perfume sensual, no brinco escolhido a dedo, no cabelo exuberante, no calçado, na roupa sofrida, escolhida, vestida e por fim curtida com deleite e prazer. Não, a mulher que recebemos com olhar entre encantado, orgulhoso e ciumento é outra por dentro também. Nós homens nunca vamos saber o que sente uma mulher produzida, que se acha bonita e gostosa, pronta pra sair pro mundo e enfeitiçá-lo. Mas não se engane, ela não se arruma pra você. Antes, no tempo da obediência, da subserviência, da dependência do homem, até podia ser. Afinal, ele tinha que gostar, aprovar. Ele era o dono dela. Até no nome, que ela passava a assinar com o sobrenome dele, pra marcar a propriedade. Mesmo assim ouso arriscar que ela não se fazia mais bela só pra ele. Hoje, então, nem se fala. Verdade um, nesse século 21: mais do que nunca a mulher se produz pra ela mesma.Verdade dois: Não pensa um segundo em você. Ou só pensa um.

O filósofo francês Lipovestky diz no livro A terceira mulher que a mulher do século 21 está muito mais na dela do que na dos homens, quer dizer, busca nas roupas e acessórios muito mais uma coisa, um sentimento “para-a-moda do que um para-o-desejo- masculino”. Hoje, a mulher busca a beleza mais para satisfazer a si mesma. Primeiro, bonita e gostosa para ela mesma. Depois, para as outras mulheres, eternas e odiosas concorrentes; e bem depois, por último, para os pobres homens, que querem ficar ricos só por causa delas.

Anos atrás, lembro quando  Juliana Paes surgiu bem mais magra para a gritaria indignada dos machos.  Ela disse que não queria ser a gostosona, que se gostava magra (parece que depois  mudou de ideia); ela se fez magra para ela, basicamente, e para as outras mulheres, segundamente. Porque todas querem ser mais magras. Como disse o Jô Soares, todas (que estão ótimas) querem perder dois quilos. Quem ama a Gisele Bündchen são as mulheres.  Mesmo que eu não compartilhe com meus colegas de gênero, a verdade é que homens amam mulheres-melancias, mulheres-melões, mulheres-qualquer-coisa-com-sustância.
Lipovestky ainda  diz em outro trecho que  “... a manequim, com suas linhas ‘cabide’ é um espetáculo destinado a seduzir prioritariamente as mulheres... São elas  e  não mais os homens que, em nossas sociedades, constituem o público mais atento às figuras emblemáticas da sedução feminina”. Com a manequim afirmam-se valores, critérios de beleza que estão muito distantes do mundo masculino, muito longe da visão do homem do que é ser uma mulher sedutora, gostosa. A nós, homens, cabe aceitar ou aceitar.
Essa mudança toda se deu na conseqüência lógica de uma sociedade de consumo cada vez mais centrada no lazer, no prazer, na individualidade. A nova cultura “desvalorizou um modelo de vida feminina mais voltada para a família do que para si mesma, legitimou os desejos de viver mais para si e por si”. A mulher vai para o trabalho, conquista sua individualidade, constrói seu prazer. E aqui não estou julgando se isso é bom ou ruim, ou o que isso tem de bom e de ruim.
 As mulheres mudaram, meu caro. Pronto e ponto. Atente às propagandas de calcinhas e sutiãs. Elas não apelam mais tanto para o lado sedutor; falam de conforto, beleza e liberdade para a mulher. Calcinhas e sutiãs incendiárias, só para aquelas horas mesmo em que elas querem botar fogo na gente, bombeiros agora cobrados na competência no uso de mangueiras e acessórios.
Então, meu parceiro de gênero, gozo e sofrimento, prepare-se, a cada dia, para essa “terceira mulher” que já chegou. E aceite que não é pra você que ela se produz. Elas são de outro planeta. Vinícius de Moraes já tinha sacado, há tempo, isso em Testamento:
Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material... É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas.”
Assino em cima, do lado e embaixo.


O TEMPO, O VENTO E O AMOR



Perguntei pro vento
onde anda meu amor?
perguntei pro tempo
onde anda meu amor?
o vento passou
e não respondeu
o tempo disse que sabe

mas ele ainda não passou