sexta-feira, 21 de novembro de 2008

mulher em pose vulgar vende bolsa pra mulher (?)


Andar pela cidade é ser atingido por algumas das mais belas mulheres que a natureza produziu e que a publicidade tratou de selecionar para ajudar a vender seus produtos. Que a mulher é excelente vendedora não é novidade. Compradora, também. Mas nesse mar de outdoors em que o capitalismo nos mergulha e, que, pela saturação de tantas imagens a gente quase nem percebe nada, algumas peças acabam chamando a atenção. Mais pelo mau gosto do que pelas qualidades. O anúncio da Top Couros é um deles. Tão feio, tão vulgar, que perguntar carece: será que alguma mulher se motiva a comprar aquela bolsa, ou outra bolsa da mesma marca? Porque vejamos, o que acontece na publicidade de gênero, no caso a voltada para a mulher, é um processo de identificação, ou projeção. Quer dizer, a mulher se vê naquela mulher da propaganda. Diferente da mulher usada em um comercial de carro dirigido para um público masculino e que faz com que o homem queira aquele carro porque junto vem aquela mulher, ou as outras mulheres que se encantarão com o carro dele, e, por tabela, com ele. Porque a potência do carro é a potência dele. O preço do carro é o dinheiro que ele tem.
Bem, mas então a pergunta é: as mulheres que vêem uma propaganda como essa da Top Couros, se identificam com aquela pose? Querem ser aquela modelo? Vão comprar aquela bolsa?
Lipovestky diz no livro A terceira mulher que a mulher do século XXI está mais na dela do que na dos homens, quer dizer, ela busca nas roupas e acessórios muito mais uma coisa, um sentimento, para-a-moda do que um para-o-desejo- masculino. Isto é, hoje, a mulher busca a beleza mais para satisfazer a si mesma. Primeiro, bonita e gostosa para ela mesma. Depois, para as outras mulheres, eternas e odiosas concorrentes; depois, para os pobres homens. Pobres homens que querem ser ricos para comprar os carros das propagandas e assim comprar as mulheres, transferindo a potência de motores medidos em cavalos para os seus frágeis e tímidos pintos.
Lembram quando a Juliana Paes surgiu bem mais magra para a gritaria indignada dos machos? Ela disse que não queria ser a gostosona, que se gostava magra; ela se fez magra para ela e para as outras mulheres. Porque todas querem ser mais magras. Como disse o Jô Soares, todas (que estão ótimas) querem perder dois quilos. Quem ama a Gisele Bündchen são as mulheres. Homens amam mulheres-melancias, mulheres-melões, mulheres-qualquer-coisa-com-sustância.
Lipovestky diz em outro trecho que “... a manequim, com suas linhas ‘cabide’ é um espetáculo destinado a seduzir prioritariamente as mulheres... São elas e não mais os homens que, em nossas sociedades, constituem o público mais atento às figuras emblemáticas da sedução feminina”. Com a manequim afirmam-se valores, critérios de beleza que estão muito distantes do mundo masculino, muito longe da visão do homem do que é ser uma mulher sedutora. Para Lipovetsky “é um reconhecimento do ponto de vista das mulheres”.
Essa mudança toda se deu na conseqüência lógica de uma sociedade de consumo cada vez mais centrada no lazer, no prazer, na individualidade. A nova cultura “desvalorizou um modelo de vida feminina mais voltada para a família do que para si mesma, legitimou os desejos de viver mais para si e por si”. A mulher vai para o trabalho, conquista sua individualidade, constrói seu prazer. E aqui não estou julgando se isso é bom ou ruim, ou o que isso tem de bom e de ruim.
Se é assim como Lipovestsky nos coloca, então a campanha da Top Couros está completamente equivocada. Colocando uma mulher, e uma mulher coxudona, gostosona, de pernas abertas numa posição vulgar - não seria mesmo vulvar? – o outdoor atrai quem? O modelo de modelo das mulheres não é esse. A pose “sedutora” não provoca a identificação feminina, porque elas querem se ver elegantes, charmosas, independentes e não esse tanto de vulgar e, indiretamente, falando aos homens. Já esses olham e gostam, claro, chegados que são - somos - num escracho e numa baixaria.
Donde concluir: publicitários, alunos de publicidade, estudai mais a sociologia, a antropologia da coisa. Olhai o mundo em que vivem, mas com olhos de quem o vê pela primeira vez. Sabe aquela disciplina chamada Semiótica? Pois é, o mundo, no caso as mulheres, falam e vocês não estão sabendo ler. Pelo menos os que fizeram esse anúncio. Como bem colocou nosso guru Mcluhan, seguimos para o futuro olhando pelo espelho retrovisor. As mulheres mudaram, meus caros, e vocês não sacaram. Se nem as propagandas de calcinhas e sutiãs apelam mais para esse lado sedutor e falam de conforto, beleza e liberdade para a mulher, uma publicidade de bolsa vai fazer isso de colocar a coitada da modelo lá de pernas abertas numa angulação até difícil, para seduzir a mulherada a comprar? Sem falar na cara da modelo – uma expressão séria, quase carrancuda, que não combina com a oferta insinuada pela tal abertura.
Mas aqui falando apenas como homem que anda pela cidade e encara aquele mulherão de pernas abertas de frente pra mim, mesmo com cara de raros amigos - ao invés de 'caros amigos' -, só posso dizer: let it be. Sem devaneios e vendo por uma ótica exclusiva e absolutamente masculina, digo: mandem logo outro outdoor tão ruim, tão deliciosamente ruim quanto esse.

6 comentários:

Anônimo disse...
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Paulo Cesar Sampaio disse...

Mestre Capa! Há muitas luas e sóis, que o homem explora o chamado "sexo frágil", que de frágil nada tem...Mas, mesmo assim, o macho ainda domina... A coisa está mudando... Mulhes já são maioria em muitos lugares e funções - benza a Deus! Abs PCSampaio

HLT disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Pelo menos um sinal de fumaça para contrair e construir pois vivo atordoada com anuncios de meninas magras, subnutridas, mostrando sapatos que revelam mais curvas que as modelos. Que mulher se vê naquele sapato que ofusca uma menina magrinha? Que mulher gostaria daquela bolsa que cobre o sexo uma menina de maiô e salto alto? Francamente, nós mulheres somos (só um pouquinho!) mais inteligentes do que pensam...

BabyButterfly disse...
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BabyButterfly disse...

As pessoa são robos da publicidade, não sei ao certo como nóis chegamos a esse nível de: marionetes do consumo!
A publicidade hoje,não mede em como levar o produto ao consumidor,mas pensa em somente vender o produto em quantidade e não pensa na qualidade oferecida!
Mas...mudando um pouco,as mulheres estão cada dia mais independe,algumas hj não tem o bom senso e acabam na maiorias das vezes,sendo vulgar e não sedutora.
Ser sedutora é algo que as mulheres do sec.21 não sabem bem o que é ser,pq para elas vulgaridade é igual a sensualidade,)O pobre o homem,que antes era poderoso,sofre com a independencia da mulher do seculo.
Ser mulher é bom,mulher pode sim conquistar td que o homem tem,mas tem coisas que nóis mulheres temos que deixar somente para ele.
A mulher não precisa querer ter um corpo da outra para ser linda,cada um tem um gosto...homem não gosta de osso e sim é cachorro gosta.A mulher tem que tirar da cabeça que pra ser gata,linda...tem que ser magra,malhada...SEJA VC!!!Mulher que passa confiança nas suas atitudes conquista tds!