domingo, 16 de agosto de 2009

Amor proibido, ou blood, sweet and tears

João tinha bebibo copos adentro numa agonia auto-destrutiva. Motivo: desamor. Causa: rompimento.
Pois João estava assim, quando sentimento causa dor física. Dor de amor não dói só na alma, dói na carne. Sua solidão era do tamanho da sua dor. Rodando e rolando, num bar, vendo um solitário com cara de vontade de morrer, sentou pensando dividir copo, papo e dor. O cara não deu a menor importância a João. Disse que não queria conversa, que já tinha decidido se matar mesmo e estava indo fazer isso logo que terminasse a cerveja. João não deu importância. Afinal ele também pensava nessa possibilidade e talvez nem esperasse terminar a cerveja.
Levantou-se, deu um tapinha no ombro do sujeito, querendo dizer "que merda, camarada" e "foda-se" ao mesmo tempo. Resolveu ir para casa decidir seu destino com a geladeira. Abriu mais uma e deitou-se na cama. Dormiu antes de pensar na janela, onde embaixo, num barzinho alguém tocava Dindi. Nem percebeu que a garrafa entornou e encharcou seu corpo também por fora.
Acordou às 5h com o telefone tocando. Zonzo, não sabia se o corpo estava molhado de sangue, se havia se cortado; nem se estava vivo. No telefone alguém com voz triste, bêbada, chapada, diz apenas: "onde?". João não entende. "O teu endereço, onde fica?". Era ela, a que fazia sua alma e sua carne doer. Ele nem lembrou o endereço, deu uma referência lá embaixo. Ela saiu correndo de casa, pegou um táxi e disse pro motorista: "o mais rápido que você puder, por favor". João desceu para a rua à espera do que nunca esperara. Olhando para um lado da rua, é abraçado por trás com força e desespero. Ficaram as 12 horas seguintes na cama juntando almas e corpos doloridos. Fizeram um sexo desesperado: não era o gozo, era a fusão que importava. "Se não tivesse grades nas janelas lá em casa, tinha me jogado". "Se não tivesse a geladeira cheia aqui, também". Olhos nos olhos, carinhos, olhos nos olhos, sexo, olhos nos olhos, lágrimas. "É nosso último encontro, não suporto a pressão do mundo, amigos, mãe, vou ficar louca". "Eu já estou louco". Sem banho, sem levantar da cama, sem comer, misturando porra com sangue de menstruação, lágrimas e suor com saliva, eles se purificaram. Naquelas 12 horas o mundo perdeu, o mundo se fudeu com seus preconceitos e sua verdadeira sujeira. Naquelas 12 horas foram felizes para sempre.

6 SE MEXERAM:

André Victor disse...
Quando se lê um texto seco, ríspido, escrito sem frescuras e com uma exposição visceral, é inevitável a ligação à um nome: Charles Bukowski. Para quem não o conhece, procure... O velho safado, apesar de marginal da literatura mainstream, é um grante escritor e que traz um grande dueto entre vida e obra, pois os dois entrelaçam-se e acabam gerando registros ficticios e ao mesmo tempo autobiográficos.

Parabéns pelo texto, Capa!
10 DE AGOSTO DE 2009 18:59

luiz gonzaga capaverde disse...
André Victor, só vc pra lembrar do nosso amado Bukowski. Qdo escrevi pensei nele e pensei que só tu farias essa relação. Jamais respondi ou comentei um comentário, mas vc me forçou a isso. Se não falasses no velho e incomparável Buk, eu ia ficar puto contigo. Valeu, garoto, faça a diferença nesse curso. Vem mais desse meu lado podre por aí. Abração.
10 DE AGOSTO DE 2009 19:20

Natalie disse...
incrível. a sensação nua, literalmente, do que é AMAR.
11 DE AGOSTO DE 2009 00:44

Almir Moreira disse...
textos pesados, também são sensuais.
existe uma ligação muito forte também com desilusões e dá muita mais vida a obra.
muito bom, Capa Vêrdê
11 DE AGOSTO DE 2009 16:19

Anônimo disse...
Enfim, parece que surge um escritor peso pesado no Ceará.
11 DE AGOSTO DE 2009 17:55

Magali Schmitt disse...
Que coisa mais... real. Se alguém se chocar, é por que nunca viveu uma grande história. Se não curtir, é porque não tem coragem de expor seu âmago, como tu tão bem o fizeste, Capa, dando tua cara a tapa. Coragem admirável.

super beijo

Nenhum comentário: