E
vão me dizer que qualquer empresário, qualquer pessoa bem-sucedida
financeiramente,
atirada numa poltrona ou acomodado no seu carrão é mais do que
Maria? Então vencer na vida é só
ganhar dinheir
Dom
Helder Câmara, escreveu que "diante do colar - belo como um
sonho - admirei, sobretudo, o fio que unia as pedras e se imolava
anônimo para que todos fossem um". Desde que li essa frase, há
muitos anos, nunca mais deixei de lembrar dela quando me deparo com
algum colar que me chame atenção. E isso do fio que une as pedras
me serve sempre também como metáfora para outra situação. É que
na vida, existem pessoas que são exatamente assim, se imolam, ou
pelo menos se dedicam a viver sendo esse elo entre as partes do todo.
Dona Maria é assim: a vida dela é dos outros, no caso, da família.
Ela vive para servir sua família, que, sem ela, não existe, é só
um amontoado de pessoas vivendo juntas. Ela acorda antes de todos, às
6h, prepara o café enquanto todos dormem, vai lavar roupa, arrumar
o possível da casa, vai para o trabalho, e quando volta, pelas 21h,
já passa no mercadinho e compra algo para fazer de janta, para o
marido doente; a filha e o filho adultos que se separaram e voltaram
para a casa da mãe; e o neto, que ela cria; todos estão à espera
dela. Essas 4 pessoas são as peças do colar que Maria une e cuida
todo santo dia.
Mas
não pense que Maria é uma pessoa triste. Pelo contrário, cantarola
cedinho pela casa músicas que não se pode identificar, porque são
cantos de sua alma, são cantos para a casa que ainda dorme, como se
quisessem dizer: estou aqui, cuidando de vocês, já podem levantar,
está tudo pronto. Pobre, de infância mais pobre ainda, ela não se
intimida diante da vida. Ninguém lhe tira pra boba. Ela reage na
hora e carrega uma fúria no peito que, essa sim, intimida quem lhe
desafia ou quer fazer de otária. Maria é uma dessas pessoas que a
gente conhece e não esquece. Quanta força nessa mulher franzina que
já mostra a marca do tempo e das agruras que enfrentou! Quanta
beleza na pobreza de sua vida tão rica! Fico pensando nesse nosso
mundo babaca, que reconhece como vencedor apenas aqueles que tem
dinheiro. Tem dinheiro, é porque trabalhou duro e venceu na vida.
Eike Batista era seguido por milhares, nas redes sociais, como
exemplo de vencedor. Ele é uma mentira do sistema. Maria nem está
nas redes sociais, mas se estivesse teria meia dúzia de seguidores,
entre familiares e amigos… E no entanto, ela sim é real e é uma
vencedora, uma verdadeira vencedora. Ela que na sua fé simples, mas
forte, repete que Deus é bom, tendo uma vida tão dura. Ela que, nas
24 horas do dia, só tem para si cinco horas e meia de sono. O resta
do tempo, é trabalhar, é viver para o outro. Você acha isso cruel?
Eu diria que entre viver para si e viver para o outro, não tenho
dúvida de que essa última opção traz mais satisfação,
felicidade mesmo, do que a primeira; traz mais dignidade, essa
palavra tão esquecida pela humanidade nesses tempos de eu me amo. E
traz muito mais cristandade às nossas vidinhas egoístas, se
pensarmos que Cristo é o outro, como nos ensina a fé.
Um comentário:
Essas "Marias" guerreiras, que lutam e que madrugam pra fazer com que eu, Priscila, moradora da cidade de Capela de Santana/RS dê mais valor a vida e ao trabalho que tenho. Essas Marias, que encheram o Blog de amor, que são cheias de sonhos e esperança. Deixo aqui meu carinho, pela Maria e pela sua história, que com toda delicadeza , foi verdadeiramente contada aqui. Abraço.
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