quarta-feira, 6 de julho de 2016

QUANDO VOCÊ CHEGAR



Antes de beijo, quero abraço, porque no abraço há um mistério maior do que no beijo... , todo mundo beija e quase todo mundo sabe beijar, com ou sem emoção... O abraço é diferente, ele envolve o corpo, ele enlaça as auras, ele é mais completo e por isso mais misterioso.


Você está para chegar e isso me deixa entre ansioso, feliz, e com medo. Não há uma palavra só pra definir o que sinto. E teriam outras ainda, muitas, mas essas me parecem resumir o que sinto. Porque você vem, o tempo não passsssa, cada hora é menos uma, mas parece muuuito mais. Cada dia é menos um, mas ele parece parado no tempo, como aquela velhinha que mora no andar de baixo. Tenho a impressão que não foi ela que parou no tempo, foi o tempo que parou nela. Caminha do mesmo jeito, todo dia faz tudo sempre igual, rega suas plantinhas, vai no mercadinho, conversa com a rua; a casa tudo no lugar, a mesma novela reprisando há 10 anos.
Ansioso, porque quero ver teus olhos nos meus, ou melhor, ver os meus dentro deles. Antes de beijo, quero abraço, porque no abraço há um mistério maior do que no beijo. Beijo é tátil, é mais, digamos, direto, todo mundo beija e quase todo mundo sabe beijar, com ou sem emoção. Estou falando de beeeijo, entende? Esse Beijo é o piloto automático da tesão e o irmão-gêmeo da concessão, da falsidade e do interesse. O abraço é diferente, ele envolve o corpo, ele enlaça as auras, ele é mais completo e por isso mais misterioso. O abraço está ligado à emoção, o beijo ao desejo, nem sempre verdadeiro. O abraço é o humano-alma; o beijo é o humano-bicho. Sempre apreciei ver as chegadas nos aeroportos, nas rodoviárias; lá têm muito mais abraços que beijos; tem beijinhos, mas não beeeijo. Parentes, amigos, namorados, casais, o abraço sempre é transmissão de energia, de vibração, como se quiséssemos dizer “eu gosto de você, que bom que você está aqui”. No abraço apertado corações quase se tocam, um escuta o outro. O aperto de braços nas costas parece querer fundir dois em um. Por isso quero teu abraço primeiro. Depois pode ser um beijinho. Depois....
Sinto medo, porque o novo sempre trás e leva isso na sua mala. Quando a gente viaja, sempre vai escondidinho (as vezes escancarado) entre as camisetas, calças e cia um quê de medo, pelo menos de expectativa pelo que virá, seja passeio, negócio, ou isso que está acontecendo entre nós. Você certamente traz, também, o medo aí no meio de suas toalhas, jeans e soutiens. O novo e o medo andam de mãos dadas. E quando suas mãos, quem sabe suadas e trêmulas, tocarem as minhas, certamente suadas e trêmulas, o mistério começará a se desvendar. Ou andarão juntas pelos caminhos do tempo, ou se separarão levadas pelo vento. Mas você precisa chegar. A morada está pronta. Mas você precisa chegar. Já tem flores pra regar. Ou murchar. Tem música pronta esperando você pra tocar. Mas você precisa chegar. Tem até vinho barato e panelada pronta, congelada. E tem uma montanha de gelo no meu coração que começa a derreter feito a geleira Perito Moreno, que quando derrete e desaba, já foi chamada de oitava maravilha do mundo. Venha e bote-a por terra. Seja a maravilha do meu mundo. Chega logo, porque até o logo está longo demais.

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