Nós homens nunca vamos saber o que sente uma mulher produzida, que se acha bonita e gostosa, pronta pra sair pro mundo e enfeitiçá-lo. Mas não se engane, ela não se arruma pra você.

O filósofo francês Lipovestky diz
no livro A terceira mulher que a
mulher do século 21 está muito mais na dela do que na dos homens, quer dizer,
busca nas roupas e acessórios muito mais uma coisa, um sentimento “para-a-moda
do que um para-o-desejo- masculino”. Hoje, a mulher busca a beleza mais para
satisfazer a si mesma. Primeiro, bonita e gostosa para ela mesma. Depois, para
as outras mulheres, eternas e odiosas concorrentes; e bem depois, por último, para
os pobres homens, que querem ficar ricos só por causa delas.
Anos atrás, lembro quando Juliana Paes surgiu bem mais magra para a
gritaria indignada dos machos. Ela disse
que não queria ser a gostosona, que se gostava magra (parece que depois mudou de ideia); ela se fez magra para ela, basicamente,
e para as outras mulheres, segundamente. Porque todas querem ser mais magras.
Como disse o Jô Soares, todas (que estão ótimas) querem perder dois quilos.
Quem ama a Gisele Bündchen são as mulheres.
Mesmo que eu não compartilhe com meus colegas de gênero, a verdade é que
homens amam mulheres-melancias, mulheres-melões,
mulheres-qualquer-coisa-com-sustância.
Lipovestky ainda
diz em outro trecho que “... a
manequim, com suas linhas ‘cabide’ é um espetáculo destinado a seduzir
prioritariamente as mulheres... São elas
e não mais os homens que, em
nossas sociedades, constituem o público mais atento às figuras emblemáticas da
sedução feminina”. Com a manequim afirmam-se valores, critérios de beleza que
estão muito distantes do mundo masculino, muito longe da visão do homem do que
é ser uma mulher sedutora, gostosa. A nós, homens, cabe aceitar ou aceitar.
Essa mudança toda se deu na conseqüência lógica de
uma sociedade de consumo cada vez mais centrada no lazer, no prazer, na
individualidade. A nova cultura “desvalorizou um modelo de vida feminina mais
voltada para a família do que para si mesma, legitimou os desejos de viver mais
para si e por si”. A mulher vai para o trabalho, conquista sua individualidade,
constrói seu prazer. E aqui não estou julgando se isso é bom ou ruim, ou o que
isso tem de bom e de ruim.
As mulheres
mudaram, meu caro. Pronto e ponto. Atente às propagandas de calcinhas e sutiãs.
Elas não apelam mais tanto para o lado sedutor; falam de conforto, beleza e
liberdade para a mulher. Calcinhas e sutiãs incendiárias, só para aquelas horas
mesmo em que elas querem botar fogo na gente, bombeiros agora cobrados na
competência no uso de mangueiras e acessórios.
Então, meu parceiro de gênero, gozo e sofrimento,
prepare-se, a cada dia, para essa “terceira mulher” que já chegou. E aceite que
não é pra você que ela se produz. Elas são de outro planeta. Vinícius de Moraes
já tinha sacado, há tempo, isso em Testamento:
“Você, por exemplo, está aí com a boneca
do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material... É,
amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de
canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres
são muito estranhas, muito estranhas.”
Assino em
cima, do lado e embaixo.
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