quinta-feira, 26 de março de 2009

A amada rotina (quem disse que ela atrapalha?)

As férias se foram e já voltamos todos ao normal, ao feijão com arroz do nosso dia-a-dia. Mesmo aqueles que não tiveram férias, de um modo ou de outro acabaram envolvidos pelo clima delas, pelo astral de verão. E tiveram suas rotinas alteradas. Agora é tudo de novo outra vez. O que não nos damos conta é que, na verdade verdadeira, apenas trocamos de rotina. Trocamos feijão com arroz por outro prato, mas também rotineiro, com raras exceções para quem sobe o Aconcágua, dá uma volta de bicicleta pelo continente, ou vai passar uma temporada em Nome, uma cidadezinha no fim do Alasca, já no Pólo Norte. De resto, o que mais acontece, é que trocamos nossa cidade por alguma outra, à beira-mar. Uma rotina por outra.

As pessoas suspiram, mergulhadas no seu mundo cotidiano: “não agüento mais essa rotina”. Uma frase já cimentada na nossa cultura é: “a rotina acaba como o casamento”. Nananina: agüentamos muito bem essa rotina. E mais: ela salva as nossas vidas. O que acaba com nossas vidas é a monotonia, isto é, quando a rotina se transforma em algo chato, pesado, sufocante.

Façamos um teste. O que você faz logo que acorda? É rotina. Você já se deu conta de que se levanta e faz tudo sempre igual? E o banho? Primeiro lava isso, depois aquilo e vai lavando ... sempre na mesma seqüência. Na mesa em casa, você tem um lugar preferido, certo? Na sala, pra ver tv, idem, certo de novo? E para dormir, não tem um lado e um jeito preferidos?

Na sala de aula, o mesmo lugar. No bar, o mesmo lugar. Alias de preferência no mesmo bar. Para o supermercado vale a regra, porque não tem coisa que dê mas na paciência da gente, do que procurar o sabão em pó e não saber onde está, querer lâmpada e não encontrar nem o remarcador de preços para informar. E o seu prato de almoço/janta? Não me diga que um dia coloca o feijão embaixo do arroz, no outro o contrário e, no terceiro, o ovo vai para o subterrâneo?

O bom do verão não é ficar na vagabundagem riscando a areia ou passando o dedo no copo suado de cerveja? Ou, ainda, ficar tomando uma rica duma caipirinha ao sair da água, bebendo junto as garotas da sukita que passam? Então? Rotina.

O bom do inverno não é chocolate quente, cobertorzinho de orelha e filme daquele tipo que precisam dois para operar o dvd? Rotina da melhor qualidade.

Até quando você namora está lá a velha e boa rotina. Ninguém agüenta ipsilone duplo e canguru perneta todo dia, ou toda noite. Aliás, como já escrevi aqui: o que torna o amor bonito, doce e até mesmo eterno, senão a rotina? A fogueira da paixão, com toda a sua excitação, mas também com toda a sua insegurança e incerteza, nos queima logo, se não se transforma num braseiro que aquece a rotina da relação. Remember Mario Quitana, também já citado: “Amizade é quando o silêncio não se torna incômodo. Amor é quando o silêncio se torna cômodo”. Amor e rotina andam juntos, não se iluda. Nós só existimos felizes da vida na rotina. Do contrário, a gente não suportaria a família, o emprego, o curso, a cidade, os amigos – tudo isso é o nosso cotidiano. Então, bem vindo a rotina do resto do ano. Sem monotonia.

2 comentários:

Paulo Cesar Sampaio disse...

Capa, amigo! Você está certo - de novo! Rotina não é má em si mesma e sim a monotonia... Saia da monotonia: assobie uma nova canção e/ou tente mesmo cantá-la! Prove um novo sorvete bem exótico! Vá de "busão" (vc que é escravo do carro ehehehe!);Reserve um dinheirinho e jante num restaurante bem chique com quem vc ama (isso será inesquecível...)... PCSampaio

Samara Freitas disse...

Professor!!
Adorei o blog. Identifico - e recordo - o "professor Capaverde" em todas as letras...Muito bom!!
Serei uma leitora assídua!!
Mil beijos