terça-feira, 17 de março de 2009

A faculdade que forma 'universotários" - 1ª parte

Cada um de nós tem doses variáveis de talento, técnica e criatividade. No futebol, como na vida, essa combinação em alta dosagem só acontece nas exceções que forjam os excepcionalmente bons no que fazem, e alguns gênios. Senão vejamos. Costureiras, existem muitas. Boas costureiras, poucas. Costureiras maravilhosas, raríssimas. O mesmo vale para cabeleireiros, padeiros, médicos, padres, professores… Luiz Fernando Veríssimo disse algo mais ou menos assim, falando do jornalista: “Com técnica, não morre de fome, com técnica e talento até ganha dinheiro”.
É preciso distinguir talento de criatividade. São próximos, mas não a mesma coisa. Em alguns casos até se confundem. O talento está mais para um dom, aquela coisa que uma pessoa tem e pronto, e que ela pode ou não usar. Algumas pessoas têm um talento bárbaro para desenhar… e não desenham. No caso da costureira, a técnica com que ela manipula a tesoura, mais o talento para provar e fazer daquele pedaço de pano uma coisa bonita em alguém, fazem a diferença. Mas será a criatividade que a transformará numa Coco Chanel. Ou melhor, será a soma dos três .
Talento não se adquire, se tem. Criatividade todos tem, mas se adquire mais, se desenvolve. E técnica só se adquire. Juntando os três, dá nisso: Beethoven, Pelé e companhia limitadíssima. Priorizando ou o talento ou a criatividade, caminha-se por um mundo mais bonito, melhor. Priorizando a técnica, como hoje, caminha-se por um mundo que se faz sem graça, que se faz frio, cada vez menos humano. Um mundo voltado para a técnica de fazer amor e que de amor não fala e que amor, mesmo, não faz. Eis um de nossos erros basilares, enquanto civilização nos últimos séculos. As empresas aplicam as técnicas de reengenharia, dos isos, da qualidade total, do planejamento estratégico… e esquecem das pessoas. E esquecem que as pessoas gostam de carinho, que qualidade total mesmo é ouvir um “bom-dia” alegre, que realmente queira dizer bom-dia; que planejamento estratégico que funciona mesmo é aquele que prevê e provisiona doses diárias de beleza, de emoção, de humanidade enfim, nesse mundo de telas, celulares, competências; nesse mundo de tanto iso e pouco riso, tanto aquilo e tão pouco isso.

2 comentários:

Bibi¹ disse...

Lendo o seu blog, recordei as suas aulas... bons tempos! Agora tenho uma parada obrigatória diária...

Até!

Paulo Cesar Sampaio disse...

Mestre Capa! Como vc sabe, as primeiras universidades vieram de religiosos - que são odiados por muitos hoje em dia, infelizmente! Há de se ter alguma formação. Mas, admito que há uma proliferação de faculdades caça-níqueis que dão dó...!!! Estou à sua disposição para contar "cases" em uma de suas aulas, quando quiser! Abs PCSampaio