segunda-feira, 23 de março de 2009

A eleição da sua vida

Vivemos um tempo de eleições. Agora, nos Estados Unidos, recém tomou posse Barak Obama. Uma eleição impensável alguns anos atrás. Aqui já se fala na sucessão de Lula desde que ele assumiu o segundo mandato. Na verdade, passamos a vida fazendo eleições. Elegemos uma profissão; uma cidade para morar, outra, ou outras, para passar as férias; elegemos amigos e elegemos amores. Fiquemos com esses últimos, por ora.

Qual foi o seu grande amor? Ou quais foram seus grandes amores? Ele está com você ou está perdido na sua memória? Existe uma tendência a julgarmos o amor pela dor que ele gera. Isto é, quanto mais sofremos, pensamos que mais amamos. Impossível sermos diferentes. Fomos criados numa tradição cristã de séculos de crescimento pela dor, de amadurecimento pelo sofrimento. “É quebrando a cara que se aprende”, ouvimos e dizemos. "É preciso penar para se conseguir as coisas". A dor, enfim, é o parâmetro, no geral. No particular, no caso do amor, não é exceção. Já dizia Monsueto, num samba memorável, “mora na filosofia: pra que rimar amor e dor?”. Mas não é essa a rima certa: o que rima com dor é desamor. Infelizmente não existe um aparelinho chamado amorômetro. Mas medimos sempre a intensidade do amor pelo quanto sofremos. “Aquela mulher? Nossa, só eu sei quanto amei, o que eu sofri por ela”. “Aquele cara?, meu Deus, quase morri por ele”. É o que ouvimos e dizemos. Mas não pense que deva ser assim. Aliás, não é assim. Casos patológicos à parte, certamente a pessoa que está a seu lado há algum tempo, ou aquela com quem você ficou mais tempo, não era aquela com quem você mais brigou, ou por quem você mais sofreu, certo? E essa é, ou foi, por isso mesmo, aquela que você mais amou. Perguntado num programa de TV sobre o que era amar, um psicólogo que nem lembro o nome disse: amar é gostar de estar junto. Matou a charada. Amar é ficar junto feliz, mas é também ficar separado feliz, é ter a felicidade de uma individualidade a dois. Ficar do lado de quem faz a gente sofrer, chorar, ser infeliz, pode ser qualquer outra coisa, mas não amor. Um namoro sem brigas, um casamento sem desavenças (falo de coisa séria, não das pequenas e deliciosas chateações e bronquinhas do dia-a-dia) são, um e outro, grandes casos de amor, pode ter certeza. Sabe aquele delicioso ficar junto, cada um no seu mundo? Taí um grande amor. Sabe aquele passear de mãos dadas cada um vendo suas vitrines, suas flores, suas pessoas engraçadas? Que beleza de amor tão grande. Lembro de Mário Quintana: “Amizade é quando o silêncio não se torna incômodo; amor, é quando o silêncio se torna cômodo”. Então, olhe para quem está do seu lado, ou para quem esteve por mais tempo ali, e tenha certeza de que esse é um seu grande amor. Aquele amor que lhe fez mofar o travesseiro de tantas lágrimas, ou beber todo o bar da sua casa e mais o da esquina, que lhe amolecia as pernas e os neurônios, foi só amor que não deu certo, foi desamor. O que deu certo, o que dá certo, é o amor das flores roubadas, do escrever devagar I love you no guardanapo do restaurante, do brincar de trançar os dedos e fazer jogo do sério... vida a fora. O verdadeiro amorômetro é o dos dias de paz em frente à TV, é o das noites em que um lava e outro enxuga a louça ouvindo um cd novo, é o caminhar junto na beira da praia riscando a areia com os respectivos dedões, ou quando juntas duas almas se deliciam lendo Pessoa. Então, não meça seus amores pelas suas dores. O grande amor você conta pelos sorrisos, pela paz e pela doce rotina de estar com quem você gosta de estar. O grande amor é eleição que não se perde nunca.

2 comentários:

Anônimo disse...

caramba Capaverde! Texto mais lindo *-*
Sabe né, a bestona aqui adora essas coisas =p

Paulo Cesar Sampaio disse...

Capa, amigo! Vá juntando os textos e depois publique-os numa Bienal. Sucesso total! Vamos destronar Coelho ehehehe! Estou casado há 25 anos! Elegi a mulher da minha vida! Costumávamos contar as noites que passamos juntos - ué, já foram milhares...!!! Mulher é boa em datas etc. Homem não liga muito pra isso, não - pra horror delas ehehehehe! PCSampaio