segunda-feira, 6 de abril de 2009

A solidão das estrelas

Tarde da noite. Mais de 1h30min. Vou caminhando pela rua, sem pressa, no rumo de casa. Ouço apenas ruídos distantes – um carro que arranca com força, talvez um namorado tentando mostrar que ele tem a força daquela máquina; um cachorro latindo, talvez por absoluta falta de sono, quem sabe irritado com aquele tolo namorado. E ouço meu próprio caminhar, que no silêncio fica forte, decidido, como não sou. Distraído, penso em quase nada. Sigo em paz com o sono e os sonhos das casas e apartamentos. E assim penso que a noite dorme em paz.
De repente um baque forte me faz sair daquele estado em que a escuridão e o silêncio se apoderavam de mim. Em seguida gritos, vozes alteradas, gente se ofendendo. Vêm da janela de uma casa pobre, de tábuas secas, descoloridas pelo tempo e carcomidas pelas goteiras de tantas chuvas. Apresso o passo. Chego mais perto. É a velha quitandeira, que mora na casa, que grita agora. É ela, sempre tão doce, tão risonha, discutindo com seu filho, que, dizem, anda envolvido com drogas.
Meus pensamentos voam. Penso em quantos mundos trágicos, infelizes, se escondem atrás dessas janelas cerradas da noite e desses sorrisos abertos do dia. Com as estrelas, penso, somos trazidos à realidade de nossas dores, nossa solidões, nossas dificuldades diante disso que se chama viver – essa coisa fácil como respirar e difícil como aceitar a morte. Com a escuridão e as estrelas somos trazidos à realidade de nossa pobre condição de seres humanos confusos e perdidos num planeta perdido numa galáxia - perdida em meio a milhões de outras galáxias – que tem mais de cem milhões de estrelas perdidas. Que tristeza penso, ao mesmo tempo tão pequena, tão solitária - desesperadoramente solitária – e infinita dessas janelas que sofrem e não dormem. E que no outro dia se abrem doces e risonhas. Por fora. Mas continuam tristes e baldias. Por dentro. Apresso o passo, quero chegar logo em casa. Preciso dormir. Quando abro o portão, olho para as janelas da minha casa. Já sei que não vou dormir.

2 comentários:

umaspiranteajornalista disse...

Grande professor!!

Excelente texto!!

parabéns!!

Magali Schmitt disse...

Capa, que bom te reencontrar!
Quero falar contigo.

bjs
Magali