quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

As caras da cidade


Uma cena triste de se ver ao andar por essa cidade (leia-se qualquer cidade) é a cara das pessoas nas paradas de ônibus. Triste não é uma palavra que defina bem esse sentimento. Melhor é a expressão borocoxô. Aliás, a palavra triste não é triste, mas borocoxô é isso mesmo: borocoxô. O dicionário diz “borocoxô - que está sem ânimo, sem energia; que está alquebrado, envelhecido, que está amuado, aborrecido”. E não é isso que vemos nas caras das pessoas que esperam ônibus? É que esperar, seja o que for, já não é legal; esperar ônibus, pior ainda; mas esperar em Fortaleza, quer dizer, sabendo onde vai entrar... isso merece um outro texto.
Mas tem coisa ainda mais borocoxô do que a cara de paisagem de quem fica plantado num abrigo esperando o ônibus. É a cara de quem passa de ônibus. Aquela cara que vemos passando rapidamente quando vamos atravessar a rua, ou, lei da compensação, quando estamos na parada esperando. Cara de natureza morta.
Outra cara para o catálogo das mais danadas – cara de consultório (qualquer consultório). Aquele monte de gente estranha, que entre uma revista Caras, sem capa, e outra, sem capa de novo, volta e meia olha para as caras em torno. A gente olha e fica pensando, “o que será que essa criatura tem?” Ou então se perde a olhar o pé da mulher da frente, bem feito... bem feio... ou o cabelo daquela outra, filosofando sobre qual o nome que a fábrica da tintura deu aquele tom; ou a gente se liga tentando ouvir a conversa daquelas duas senhoras falando algo empolgante sobre seus filhos ou sobre um novo ponto de crochê. Isso mesmo, crochê, sabe o que é? É que a gente naquele mundinho busca assuntos adormecidos que acordam no torpor do consultório. Mas o melhor mesmo é olhar as caras. Bom não levar espelho.
Outra cara que dói: cara de elevador. Aí não é só a cara, claro. É a situação toda que incomoda. A invasão do território da gente. A ciência diz que temos em torno de nós uma faixa de 1m a 1,5m,que invadida, nos constrange. É o nosso espaço, o nosso território. Aí a gente fica ali sendo invadido no nosso cheiro, na nossa caspa, nas nossas manchas, e invadindo o território dos outros.

Mas o pior das caras que já vi, foi numa exame de fertilidade que fiz; o exame se chama espermograma. Imagine uns oito homens sentados em um banquinho, todos fazendo porra nenhuma a não ser esperar a hora em que serão chamados para justamente coletar... No meu caso existia um só local para coleta do material: um banheiro. A cada um que entrava a gente ficava controlando quanto tempo o camarada levava para ejacular, de olhos abertos e fazendo pontaria num pote que nem em um ano ele encheria. Bem, a cara do sujeito quando saia do banheiro com o material coletado com as próprias mãos era de dar dó. Aquele minguadinho no vidro, os olhares dos outros homens na espera de fazer sua parte, a entrega para as moças do balcão... Taí uma cara que não desejo pra ninguém. Cara de pau ao contrário.

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