Uma
cena triste de se ver ao andar por essa cidade (leia-se qualquer
cidade) é a cara das pessoas nas paradas de ônibus. Triste não é
uma palavra que defina bem esse sentimento. Melhor é a expressão
borocoxô. Aliás, a palavra triste não é triste, mas borocoxô é
isso mesmo: borocoxô. O dicionário diz “borocoxô - que
está sem ânimo, sem energia;
que está alquebrado, envelhecido,
que está amuado,
aborrecido”. E não é isso que vemos nas caras das pessoas que
esperam ônibus? É que esperar, seja o que for, já não é legal;
esperar ônibus, pior ainda; mas esperar em Fortaleza, quer dizer,
sabendo onde vai entrar... isso merece um outro texto.
Mas
tem coisa ainda mais borocoxô do que a cara de paisagem de quem fica
plantado num abrigo esperando o ônibus. É a cara de quem passa de
ônibus. Aquela cara que vemos passando rapidamente quando vamos
atravessar a rua, ou, lei da compensação, quando estamos na parada
esperando. Cara de natureza morta.
Outra
cara para o catálogo das mais danadas – cara de consultório
(qualquer consultório). Aquele monte de gente estranha, que entre
uma revista Caras, sem capa, e outra, sem capa de novo, volta e meia
olha para as caras em torno. A gente olha e fica pensando, “o que
será que essa criatura tem?” Ou então se perde a olhar o pé da
mulher da frente, bem feito... bem feio... ou o cabelo daquela outra,
filosofando sobre qual o nome que a fábrica da tintura deu aquele
tom; ou a gente se liga tentando ouvir a conversa daquelas duas
senhoras falando algo empolgante sobre seus filhos ou sobre um novo
ponto de crochê. Isso mesmo, crochê, sabe o que é? É que a gente
naquele mundinho busca assuntos adormecidos que acordam no torpor do
consultório. Mas o melhor mesmo é olhar as caras. Bom não levar
espelho.
Outra
cara que dói: cara de elevador. Aí não é só a cara, claro. É a
situação toda que incomoda. A invasão do território da gente. A
ciência diz que temos em torno de nós uma faixa de 1m a 1,5m,que
invadida, nos constrange. É o nosso espaço, o nosso território. Aí
a gente fica ali sendo invadido no nosso cheiro, na nossa caspa, nas
nossas manchas, e invadindo o
território dos outros.
Mas
o pior das caras que já vi, foi numa exame de fertilidade que fiz; o
exame se chama espermograma. Imagine uns oito homens sentados em um
banquinho, todos fazendo porra nenhuma a não ser esperar a hora em
que serão chamados para justamente coletar... No meu caso existia
um só local para coleta do material: um banheiro. A cada um que
entrava a gente ficava controlando quanto tempo o camarada levava
para ejacular, de olhos abertos e fazendo pontaria num pote que nem
em um ano ele encheria. Bem, a cara do sujeito quando saia do
banheiro com o material coletado com as próprias mãos era de dar
dó. Aquele minguadinho no vidro, os olhares dos outros homens na
espera de fazer sua parte, a entrega para as moças do balcão... Taí
uma cara que não desejo pra ninguém. Cara de pau ao contrário.
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