sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Românticos são loucos




Leio Vinícius, Pessoa, compro livros de poesia. Meu Deus!, eu compro livros de poesia!! Tem algo mais anacrônico do que comprar livros de poesia, quando todos lêem manuais de felicidade prêt-à-porter e lições de como enlouquecer o outro na cama ou ficar rico em 10 lições?


Nasci com um defeito de fábrica – nasci com sonhos que não são mais sonhados. Nasci romântico num mundo que não é mais romântico. Nasci com um defeito de fábrica que não tem conserto. Dois corações, três almas. Se como disse Pessoa “quem tem alma não tem calma”, imagina eu, que me debato dentro de mim, que me transbordo. Românticos são loucos, românticos são poucos, diz a letra de um raro talento surgido ultimamente na MPB, Vander Lee. Sou dos loucos, sou dos poucos “que querem ser o outro, que pensam que o outro é o paraíso”.
Sei que tudo acaba, é a regra, mas continuo acreditando num grande amor pra toda vida e mais um dia como a exceção pra confirmar a regra. Fico desencantado com os jovens e sua lucidez prática do prazer momentâneo, da emoção barata, engarrafada, e com o medo de sofrer. Sou como Vander Lee, dos que
mesmo certos vão pedir perdão/ que passam a noite em claro/ conhecem o gosto raro/De amar sem medo de outra desilusão...

Amo o amor, amo amar e me sinto fora de compasso. Amo deitar e não dormir, ficar pensando nela. Amo acordar, e andar com ela no pensamento. Amo aquele suor na mão, aquele coração acelerado, o ouvido que só tem ouvidos pro telefone que toca-não-toca, e me sinto fora do eixo do mundo.
Gosto de puxar cadeira, mas as mulheres parece que não gostam mais disso e vivem puxando o meu tapete. Gosto de abrir portas, mas as mulheres parecem também não gostar disso e tenho levado muitas na cara. Amo fazer amor: pétalas na cama, bilhetinhos espalhados... mas as mulheres preferem transar (pra não usar um verbo mais forte) e, no outro dia, sem telefonema, sem flores. A fila andou.Nasci com um defeito de fábrica. Nasci romântico num mundo que não é mais romântico. Nasci num tempo errado. Por isso ando errado pelo mundo, com conta em floricultura quando elas atendem mesmo é velórios e congressos; com olhar nas estrelas, quando elas brilham mesmo é pra cientistas descobrirem novas galáxias. Leio Vinícius, Pessoa, compro livros de poesia. Meu Deus!, eu compro livros de poesia!! Tem algo mais anacrônico do que comprar livros de poesia, quando todos lêem manuais de felicidade prêt-à-porter e lições de como enlouquecer o outro na cama ou ficar rico em 10 lições?
Sou meditabundo, e até a palavra é feia. Sou preguiçoso; copiando o nick de uma amiga “tenho preguiça de ser sério” . Malemolente, lento, num tempo de pressa e agilidade competente. Curto quando o sinal fecha pra poder olhar pros lados e ver carros, caras, cores. Gosto quando falta luz e a escuridão de velas me mergulha num mundo de sombras, medos da infância, quando a competência da tecnologia não era tão competente e nos dava cotas de fantasia. Não gosto de fast food . Sou slow food, o último a terminar de comer. Odeio as rapidinhas, gosto das demoradoooooonas. Sou contemplativo e vejo que o mundo me contempla como um ET.
Nasci com um defeito de fábrica. Nasci fora do tempo. Meu tempo é outro. Mas vivo agora, o que fazer? Me resta encarar como Drummond, que escreveu:
"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."

Vai, Capa!










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