quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Da primeira vez que me matei

(Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...
Mário Quintana)


Da primeira vez que me matei, jurei que nunca mais amaria a ninguém de novo. Digo me matei, porque nunca mais amar é uma forma de se matar. Mas inexperiente nas dores do amor, foi assim. “Nunca mais vou amar”, jurei pra mim mesmo. Juramento em falso. Mas passa o tempo e vem novo amor. Passa o tempo e vem nova dor. Porque esse negócio de amar não é brincadeira não. Eu sou dos raros que ainda acreditam que uma história de amor pode durar pra sempre. Mas parece que essa história do amor eterno é a exceção que confirma a regra de que todo amor acaba, pelo menos de um dos lados. E geralmente não é do meu. Não morro de amores por Julio Iglesias, acho meloso demais, mas uma música dele, chamada Hey, tem um verso que gosto muito: “é sempre mais feliz quem mais amou, e quem mais amou fui eu”. Então, geralmente sou mais feliz. Claro que depois, quando acaba, sou o próprio infeliz. Passo por baixo das portas, odeio ver namorados felizes, dias lindos me entristecem e como Drummond, acho o ponto de exclamação uma aberração. Mas passa. Dali um tempo, olha eu sendo o mais feliz de novo. Mas o que quero dizer aqui é que o amor não passa. Ele se transforma em outra coisa. Às vezes numa mágoa profunda, às vezes numa lembrança meiga, momentos lindos; outras, uma raiva pitibulesca. Porque as pessoas que você amou sempre serão especiais, pro bem ou pro mal. É aquela história: ex é pra sempre. Encontrar alguém que amamos, assim, por acaso num bar, por exemplo, gera em nós, sempre, sentimentos atrapalhados. Se estamos com outra pessoa e se a ex está também com outra pessoa, então a coisa fica mais atrapalhada ainda, e para todos, porque o atual amor odeia o ex-amor do seu amor. Geralmente estraga a festa. Mas não devia ser assim, porque o amor é um só, nossa cota de amar é infinita. Gastamos um pouquinho aqui, outro tanto lá, um montão depois, mas o amor é um só. E nós também levamos sempre pedaços dos amores antigos para o novo. Coisas erradas que fizemos, mentiras, traições, ofensas, posturas, birras e burrices e as coisas boas também, claro: uma novidade no fazer amor, uma comidinha; aperfeiçoamos as DR (sigla da moda para “discutir a relação”), novas canções, filmes...
Eu, do fim da relação que tive (não posso dizer fim do meu amor), posso dizer que aprendi muita coisa. Aprendi que amar é uma merda! e que não quero mais saber de amar a ninguém. Que toda essa conversa aí em cima é muito bonitinha, tem muito de verdade, mas, porra! amar é foda! O que eu quero dizer meeeesmo aqui é que não quero que esse meu amor passe e se transforme em qualquer coisa, quero que volte para o palco e seja maravilhoso, sofrido, alegre, chorado, tesudo, brochado, como foi. Quero os fiascos de novo, quero até as baixarias; quero as trepadas inesquecíveis – brincadeiras de carne da melhor qualidade. Quero as fugas, as surpresas, os choros sem motivo, os choros com muitos motivos. Quero as mentiras ditas com cara de verdade, quero as verdades jogadas na cara, quero roubar flores, puxar cadeira, abrir porta (enfim, ser o babaca de sempre). Quero aquela espera agoniada, que não acaba nunca; aquela partida doída, que leva a dor junto no peito. Quero o beijo de cinema depois da briga, num banco de um velho táxi, enquanto o taxista cantarola uma breguice muito vagabunda. Quero o amor vagabundo, quero o lado puta dela, quero o amor divino, os olhos mostrando a alma. Quero o meu amor de volta. Ou juro que me mato pela segunda vez.

3 comentários:

Anônimo disse...

caraaaaaaaaaaaaaaaaaaaamba capa!muito massa esse texto!
renataaaa

luiz gonzaga capaverde disse...

Obrigado Renata. Enfim,alguém veio aqui. Mas pq anônima? Me leia mais, please. Abraço

Karrike Bongiovi Algo Sobre Mim eo Resto do Mundo disse...

muito bom esse texto, brigadu Renata por indicar esse blog