quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Homem morre de medo de mulher

Os dois chegaram altos da balada, já madrugada. Ela senta na cama e com cara de moleca diz: “tira a roupa e vem cá!” Atendendo a seus instintos e à formação de que deve estar sempre pronto a mostrar serviço, ele se posta diante dela, baixa as calças e... nega fogo. Ela fica frustrada. E ele como fica? Melhor nem falar. Os homens me entendem. As mulheres acham que entendem. Ela, além da frustração e do constrangimento (dizer o quê?), sofre também um sentimento de que não é desejada. Pelo menos naquela hora em que ela desejava tanto. A resposta para o ocorrido é simples. Homem morre de medo de mulher. Mulher assim ousada, então, apavora o macho. As mulheres nem imaginam o quanto os homens as temem. Se pesquisassem um pouco sobre esse pobre ser, saberiam o quanto ele se sente inseguro e literalmente morre de medo delas. E falo isso ao longo dos séculos. Nem precisa complicar vasculhando a psicanálise. É só ir na História. Antes, existia, em várias culturas, o mito da vagina dentada, que dispensa explicações (aliás, a própria palavra ‘vagina’ já é assustadora). Sem falar na Deusa-Mãe. Maiores informações basta ir ao Google. Hoje o homem se sente diminuído e medroso por vários motivos. Dois deles: a capacidade orgástica da mulher, incomparável à dele e comprovada por ele; e a performance da mulherada na cama, igualmente aferida. Falo das mulheres em geral, mas no particular da mulher que na cama se mostre muito solta, tesuda, tomando a iniciativa. Essa é um terror. Por isso que o instituto IMS Health - que audita o setor farmacêutico no Brasil e no mundo – aponta que o Cialis foi o segundo medicamento mais vendido no Brasil no ano passado, só perdendo para o Dorflex. O Cialis, pra quem não sabe, é um remedinho pra não acontecer aquilo com o camarada do início desse texto, e é usado em larga escala, inclusive pelos jovens, por garantia. Só pra complementar, o terceiro medicamento mais vendido é a Neosaldina e o quarto, o Viagra, que dispensam apresentações. Desculpe, mas não resisto ao blague - parece que as cabeças são problema para o brasileiro.
Voltando às mulheres, lembro agora de um amigo que teve seu casamento ameaçado bem por esse motivo da pegada feminina. A mulher tomava a iniciativa sempre e não dava oportunidade a ele de ser agressivo, pegador, homem, enfim, como lhe ensinaram que deveria ser. Não sei como resolveram, se resolveram, mas estão juntos até hoje.
Uma outra amiga, conta que quando foi a um velho e conhecido motel que freqüentava com o ex, se fez de sonsa, como se não entendesse de motel, principalmente daquele. Sentou na cama e olhando aquele console cheio de luzes e botões se fez de maravilhada. Apertava um botão e exclamava: “oh, ascende a luz de cima!” Apertava outro e se extasiava: “olha só, esse é da televisão!” Não demorou e o namorado novinho em folha aterrissou do lado dela e cheio de orgulho e autoridade explicou cada botão, cada luzinha. Tiveram uma noite ótima. E nunca tiveram problemas até onde sei. Outra amiga se botou nas lingeries, preparou uma banheira cheia de sais e espumas, com champanhe, taças e muito clima, para que quando o marido chegasse fizessem uma happy hour realmente happy. Aparentemente muito feliz com a surpresa, ele se refestelou na espuma e enquanto ela buscava uma toalha, ele... dormiu. Psicóloga ela, não tinha dúvidas, me dizia depois, de que o sono foi a fuga que ele encontrou para não enfrentar aquela sessão erótica. Eles tinham esse problema. Ele se sentia seguro no feijão com arroz. Ela gostava de novidades, ousadias, curtia preparar o ambiente e desbravar novos. Estou me sentindo um traidor da raça masculina. A verdade é que não está longe o dia em que o homem vai começar a dizer “hoje, não, amor, tô com uma puta dor de cabeça”, ou “hoje tô estressado, meu bem, me incomodei demais no trabalho”. Logo logo os machos do planeta vão criar o Dia Internacional do Homem, pra defender seus direitos, incluindo o de não estar a fim. E olha que nem falei da paranóia do homem com o tamanho do pinto, agora sujeito à comparações. Isso me lembra um trecho do filme Vinícius, de Miguel Faria Jr, onde Chico Buarque pergunta ao poetinha se ele acreditava em reencarnação e, acreditando, como queria voltar a esse mundo. Vinícius disse que “queria voltar ele mesmo, só com o pinto um pouquinho maior”. E daí linco com uma crônica de Walter Navarro, onde falando do filme e a propósito da frase de Vinicius de Mores, diz que “se não der pra voltar como Vinicius, eu gostaria de voltar como eu mesmo, Walter Navarro, mas com o pinto um pouquinho menor. E menos mentiroso também”. Com essa, só posso pedir: Senhor, tende piedade de nós, homens.

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