quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Eu sou mesmo exagerado (ou Cazuzando)

Estava em um belo papo sobre o amor com a amiga e professora Tânia Tajra, quando me veio a frase de Cazuza “quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Quando saí - estava a pé -, resolvi caminhar um pouco pensando no que havíamos conversado, no que eu havia aprendido. Aí me assaltou outra obra de Cazuza: “Exagerado”. Pensei: esse é meu momento Cazuza. É que eu sou mesmo exagerado. E, exagerado, não caminhei só um pouco, caminhei muuuuito.
Exagerado, quando choro, seco. Quando bebo, me encharco. Quando fumo, me esfumaço. Quando gosto de um artista, Chet Baker, por exemplo, não tenho só um disco, tenho todos. O mesmo vale pra Chico Buarque, Elis Regina. Idem para escritores, como Carson McCullers, Fernando Pessoa. Quando era criança colecionava carteiras de cigarros com amigos. Eles tinham 50, 100, eu tinha mais de mil. Eu sou mesmo exagerado. Quando estou alegre, não me caibo; e triste, o mundo se faz pequeno pra tanto cinza.
E quando amo... meu Deus do céu! eu amo todo o amor que houver nessa vida. O amanhecer tem a cara do meu amor, a chuva chove o meu amor. Se eu durmo, é que eu quero sonhar só com ela; e se acordo, é por acaso, porque no sonho ela me ama, e se acordo, é por descuido, por engano.
Quando amo não mando flores, mando a floricultura inteira. E aí quando deito, não durmo, e amo me dar por feliz em perder noites de sono só pra vê-la dormir (que prazer mais egoísta o de cuidar de um outro ser, mesmo se dando mais do que se tem pra receber). E faço promessas malucas, tão curtas quanto um sonho bom.
Não façam o que faço. Mas pra mim, exagerado, carteira de cigarros, Chico Buarque e tudo que amo é motivo de culto, devoção. No amor, então, eu largo tudo: carreira, dinheiro, canudo, até nas coisas mais banais, pra mim é tudo ou nunca mais. Acho até que mereço ganhar pra ser carente profissional, levando em frente um coração dependente, viciado em amar errado.
Exagerado. Quando corro, me exauro. Quando vou ao cinema e amo o filme, assisto três sessões seguidas. Quando amo uma música, o cd player pede água. E quando escrevo, descrevo, porque perco o controle sobre meus dedos e eles correm soltos pelo teclado. Me faço escravo das palavras que me possuem. Sou mesmo exagerado. No amor – sou chato e exagerado em falar dele - quando amo, sinto pena de quem não ama assim e chego a pedir piedade. Que o Senhor dê grandeza e um pouco de coragem pra quem não sabe amar e fica esperando alguém que caiba no seu sonho.
Um dia uma namoradinha da adolescência me disse: “tu és muito exagerado”. Daí pra frente, só piorei. Desde então pequenas poções de ilusão, mentiras sinceras, me interessam cada vez mais.
Caminhando, depois da conversa com Vânia, roubei flores dos canteiros fazendo festinha pra mim mesmo. Um vira-lata começou a me acompanhar. Contei pra ele como eu era. Ele abanou o rabo. Parei e insisti que eu era péssima companhia. Ele sentou. Mandei embora. Ele deitou. Pensei: é irmão. E seguimos lado a lado. Exagerados.

2 comentários:

Hérika disse...

Capaverde,o que seria da humanidade sem os exageros bons que bos fazem sentir no dia das mortes cada vez mais vivos?O que seria de nós se não pudéssemos inchar os olhos de água salgada cada vez que lembramos algo bom que aconteceu naquele tempo ou no amor perdido,(sei lá culpa de quem foi)...
O que seria do mundo aqui sem pessoas que sintam bem assim como você, como o Cazuza e de vez em quando eu(principalmente no cinema ou ao ver uma propaganda de tv mais melosa...)?
Você fecha tudo!
Um xêro carinhoso.

Nirton Venancio disse...

Meu caro, que bom sua visita ao meu blog. Sempre li suas quintas-feiras nO Povo, onde trabalhei na década de 80. Sou um cearense exilado em Brasília... estarei por aí neste final de dezembro.
Passei pelo meu outro blog, onde deixarei o link do Midiário,
www.olharpanoramico.blogspot.com

abraços!