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Eu tomava uma cerveja, depois da aula, num bar próximo
a faculdade, e um aluno se aproximou com aquela intimidade que a
noite propicia e o álcool exacerba. Conversa vai e vem ele entrou no
assunto que estava enlouquecendo o seu copo.
“Professor,
é o seguinte. Não aguento mais essa mulherada. Não consigo uma
garota prá namorar. Só prá transar. Toda sexta à noite eu saio,
vou num bar, uma danceteria, e arrumo mulher prá dormir. Mas eu
quero namorar, sabe?”
E
explicou o que era namorar prá ele.
“Eu
quero ficar em casa com a menina fazendo massa e enchendo a cara de
vinho barato, daqueles de garrafão. Quero caminhar de mãos dadas
pela calçada. Quero gostar, sabe?”. Os homens se queixam muito das
mulheres.
Aquilo
me lembrou imediatamente uma outra conversa, dessa vez com uma
garota, também aluna. Ela me pediu que apresentasse alguém prá
ela, que ela não aguentava mais não ter namorado. “Puxa,
professor, o senhor conhece todos os alunos, me apresenta um que
queira uma namorada. Os homens não querem mais namorar, só querem
transar.” As mulheres se queixam muito dos homens.
Pensei
em apresentar os dois, mas me dei conta de que não me lembrava mais
quem era a menina. Mas contei a história para ele, que enquanto me
escutava enchia o seu copo. Ele era um cara bonito, que devia fazer
sucesso com a mulherada.
Daí passamos a
falar de livros, aula. Até que uma menina no fundo do bar chamou a
atenção dele. Bonita, ela atirava os cabelos pra lá e pra cá, e
entre um gole e outro de cerveja olhava para o pobre procurador de
namorada. Talvez conscientemente, ela bebia sua garrafinha direto no
bico. Isso reforçava o jogo de sedução que ela estava jogando,
pelas mensagens outras que passava ao procurador de namorada.
Procuradora de namorado?
Vi o brilho no olho
dele. E lá foi, copo em punho, conversar com a menina. Procurar o
que mesmo?
Fui pra casa
pensando em Vinícius de Moraes que escreveu: “tudo isso não
adianta nada se nessa selva, escura e desvairada não se souber achar
a grande amada para viver um grande amor”. Fui pra casa pensando em
Arthur da Távola, que disse que “não tem namorado quem não sabe
o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora que passa o
filme; de flor catada no muro e entregue de repente... “Fui pra casa
cantando Vinícius baixinho, respeitando meus ouvidos: “Se você
quer ser minha namorada / ah! que linda namorada você poderia ser /
se quiser ser somente minha / exatamente essa coisinha / essa coisa
toda minha / que ninguém mais pode ser...”.
Dias
depois, encontrei de novo o procurador de namorada.
Arrisco: “E aí,
encontrou a parceria para o vinho de garrafão?”
E ele:
“Que nada! Aquela loira queria era sexo. Fomos lá pra casa, depois
de muitas cervejas. Aliás, foi maravilhoso. Mas não peguei o
telefone dela e não a vi mais por aqui. É o que eu te disse, as
mulheres só querem transar, professor”. Pensei: esse cara não tá
entendendo nada. Vai morrer sem namorada.
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