sexta-feira, 15 de abril de 2016

FAKE E PAIXÃO


Eu estava desconfiado q falava com um fake. Afinal não é possível q uma criatura tivesse tanta afinidade comigo. Eu dizia que adorava Chico Buarque, ela colocava um verso justamente q eu amava:
"se na bagunça das nossas noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com q pernas eu devo ir?".
Aí eu digitava uma canção dele com Edu Lobo, não tão conhecida: "Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar..."
E sem tempo de pesquisar no Google, ela respondia:
"Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás"
"E fado vc gosta?" perguntou ela, completando:"eu adoro". E listou simplesmente os meus preferidos, tipo Cristina Branco, Dulce Pontes e Mariza.
Eu disse: "Vc é um fake", porque só podia ser alguém q sabe muito dos meus gostos q não são tão comuns. Ela botou um "kkkkkk". 
Pensei: "bem se ela escrever agora q ama a 4ª Sinfonia de Bruckner, das duas uma, ou era um fake de alguém íntimo, ou esse negócio de alma gêmea existe mesmo. Mas ela não colocou, fez pior, perguntou se eu também curtia Luc Ferry, q ela estava lendo e amando. Aí eu levantei e comecei a caminhar pela casa, misto de encantado, assustado e curiosíssimo. Nunca acreditei em alma penada, menos ainda em alma gêmea. Não acredito q alguém do outro lado comande nossos destinos e jogue conosco como marionetes, promovendo encontros e, mais ainda, desencontros.
Mas a coisa não parou por aí. Para aumentar minha aflição vieram lá Baumann, Pierce, Osho, Philip Roth, e um exército de gente que eu curtia.
Parti pro ataque. "Qual sua profissão?" "Quando a gente se encontrar eu te digo, vocês jornalistas perguntam demais". Aí mudei o rumo da conversa e foi papo sobre amor, romantismo, vida a dois, fidelidade. Em tudo, se não batia comigo, tinha uma resposta inteligente e q só me deixava mais e mais embasbacado. Seria uma psicanalista? Uma socióloga? Uma...? Me deu um rompante: "Vc é mulher mesmo?" "Sou bicho esquisito, todo mês sangro”.
Então resolvi partir pros finalmente: "Ou me diz o q vc faz ou nossa conversa termina aqui". Silêncio do outro lado. Silêncio não é bem a palavra pra definir o vazio do bate-papo, porque silêncio se refere à fala, bem, mas bate-papo, também não é a palavra, porque também se refere à conversa falada. Enfim, tô fugindo do assunto. 
"Eu trabalho na Abin. Muda alguma coisa pra vc?", disse enfim.
Fiquei atônito. "Você trabalha pra Inteligência do governo? "
"Sim, e ando armada, tudo bem?"
Não sabia o q dizer. A mulher q tinha tudo a ver comigo era uma agente secreta, ou quase isso! Carregava uma Beretta na bolsa. Investigava coisas sérias, pessoas importantes, secretamente. Mas eu não sou importante, pensei.
Fiquei imaginando a gente indo pra cama, ela tirando a roupa e botando a Beretta na cabeceira. Será q seria excitante fazer amor com aquela mulher q era um verdadeira caso do além, sem explicação, olhando a arma na cabeceira? Ou seria broxante. E se eu broxasse e ela me botasse a arma no... na cabeça, e dissesse "sobe!". Viajei. Voltei pra terra e decidi encarar:
"Você é a coisa mais doida, inesperada e bonita q me aconteceu. E por tudo q falamos sei q vc existe mesmo. Quero mesmo te encontrar"
E ela: "Ah,q bom, pensei q um encontro como o nosso fosse terminar por uma coisa sem importância. Nunca encontrei ninguém como vc".
Eu disse: "Não vou perder essa chance de alguém tão raro".
E saí do Face. E exclui meu fake.

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