Existe
uma menina que eu não sabia q existia. E porque eu não sabia a vida
não era tão bela, o sol não brilhava tanto e nem a chuva tinha
tanto encanto. Hoje, quando olho pra ela, para aqueles olhos cuja cor
nem sei definir direito, eu penetro num mundo que até dá medo.
Beleza tanta, desejo tanto. Ela é proibida pra mim. Nem sei bem
porque, nem por quem, mas ela é proibida pra mim. Não devia ser
assim. Se alguém me invade, se alguém me toma, porque não pode ser
diferente do que é sempre? Por que o sentimento tem que ceder ao
pensamento, à razão? Porque o desejo e o sentimento tem que ceder à
essa sociedade falsa, hipócrita e mentirosa, quando o que sinto é
tão verdadeiro? Pra mim, só por um motivo – ela não me deseja e
me quer como eu a desejo e quero.
Existe
uma menina que eu não sabia que existia. E porque eu não sabia, eu
nem lembrava mais que existe um menino dentro de mim capaz de
escrever versinhos bobos de amor, cantar músicas que acho ridículas
de tão pobres e bregas, mas cheias de amor e paixão, e nem ficar
assim chutando lata na rua e pensando como seria bacana essas duas
crianças juntas – ela, menina por dentro e por fora e eu, com um
menino renascido dentro desse corpo já meio cansado.
Existe
uma menina que eu não sabia que existia. E porque eu não sabia que
existia eu não tinha mais sonhado com o que a fantasia e desejo
podem ter de melhor. O afago das mãos trêmulas de paixão, o abraço
que funde duas almas, o delírio da carne que se arrepia e vibra e
goza na loucura sublime da entrega absoluta ao outro. Agora me pego
sonhando em tê-la nos braços, em pegá-la no colo, deitá-la na
cama e tirar-lhe a roupa, mas tirar-lhe a roupa tão devagarinho
assim como um cirurgião faz a mais delicada das cirurgias, para que
cada detalhe do seu corpo me capte, e eu capture cada arrepio, cada
nuance – deleite puro, de quem descobre um anjo, uma deusa, mas
acima de tudo uma mulher no que isso tem de mais lindo.
Existe
uma menina que eu não sabia que existia. E porque eu não sabia eu
não imaginava que o desejo pudesse assumir essas proporções, essa
força de me tirar o sono pensando em como seria lindo morrer de
prazer dentro dela, e renascer do gozo para a realidade do seu corpo
perfeito, da sua alma maravilhosa. Ah, que coisa doida querer essa
menina assim, sonhar em vê-la suspirando nos meus braços, gemendo
entregue a mim e à minha loucura de tê-la só pra mim, de
beijar-lhe tanto até que sua alma se sinta beijada, de entrar nela e
fundir nossos corpos num êxtase de desejo e prazer até sua alma se
sentir fundida com a minha, até nossos corpos serem um só pra
sempre.
Existe
uma menina que eu não sabia que existia. E porque eu sei que ela
nunca vai ser minha, me vejo agradecendo à Deus por pelo menos tela
conhecido e querido e desejado tanto. E porque eu sei que ela nunca
vai ser minha, me quedo quieto, escrevendo e sonhando, porque sei que
na realidade só eu a quero assim – ela nem imagina o quanto. E
porque eu sei que ela não me quer assim, me quedo quieto, me
confortando no fato de que mesmo que ela me quisesse, ela é
proibida pra mim. Tão mais proibida quanto mais eu a quero, tão
mais proibida quanto mais queria que ela me quisesse.
Existe
uma menina que eu não sabia que existia. E agradeço a Deus tê-la
posto no meu caminho. Ele se fez mais alegre, mais bonito, mais
pleno. Mesmo sabendo que nunca sentirei sua mão deslizando no meu
corpo, sua pele cheirosa colada na minha me perfumando, seu corpo
perfeito me levando pro céu, eu agradeço a Deus, porque ela é uma
prova definitiva de que Ele existe. Obrigado, por ela, obrigado meu
Deus. E obrigado porque aconteceu.
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