terça-feira, 5 de abril de 2016

O GRANDE AMOR DS SUA VIDA


 "...Aquele amor que lhe fez mofar o travesseiro de tantas lágrimas, ou beber todo o bar da sua casa e mais o da esquina, que lhe amolecia as pernas e os neurônios, não foi um grande amor, foi um grande desamor. O que deu certo, o que dá certo, é o amor do brincar de trançar os dedos e de fazer jogo do sério... vida a fora...."


Vivemos um tempo de eleições permanentemente. Alianças, conchavos, rompimentos, tudo de olho sempre nas próximas eleições, ou relações. Na verdade, passamos a vida fazendo eleições. Elegemos uma profissão; uma cidade para morar, outra, ou outras, para passar as férias; elegemos amigos e elegemos amores. Fiquemos com esses últimos, por ora.
Qual foi o seu grande amor? Ou quais foram seus grandes amores? Ele está com você ou está num cantinho da sua memória? Existe uma tendência a julgarmos o amor pela dor que ele gera. Isto é, quanto mais sofremos, pensamos que mais amamos. Impossível sermos diferentes. Fomos criados numa tradição cristã de séculos de crescimento pela dor, de amadurecimento pelo sofrimento. “É quebrando a cara que se aprende”, ouvimos e dizemos. "É preciso penar para se conseguir as coisas". A dor, enfim, é o parâmetro, no geral, do geral .No particular, no caso do amor, não é exceção. Já dizia Monsueto, num samba memorável, “mora na filosofia: pra que rimar amor e dor?”. Mas não é essa a rima certa: o que rima com dor é desamor. Infelizmente não existe um aparelhinho chamado amorômetro. Mas medimos sempre a intensidade do amor pelo quanto sofremos. “Aquela mulher? Nossa, só eu sei quanto amei, o que eu sofri por ela”. “Aquele cara?, meu Deus, quase morri por ele”. É o que ouvimos e dizemos. Mas não penso que deva ser assim. Casos patológicos à parte – e quase todo mundo tem um pra lembrar - a pessoa que está a seu lado há algum tempo, ou aquela com quem você ficou mais tempo, não era aquela com quem você mais brigou, ou por quem você mais sofreu, certo? E essa é, ou foi, por isso mesmo, aquela que você mais amou. Perguntado num programa de TV sobre o que era amar, um psicólogo que nem lembro o nome disse: amar é gostar de estar junto. Matou a charada. Amar é ficar junto feliz, mas é também não estar junto e estar feliz, é ter a felicidade de uma individualidade a dois. Ficar do lado de quem faz a gente sofrer, chorar, ser infeliz, pode ser qualquer outra coisa, mas não amor. Um namoro sem brigas, um casamento sem desavenças (falo de coisa séria, não das pequenas e deliciosas chateações e bronquinhas do dia-a-dia) são, um e outro, grandes casos de amor. Sabe aquele delicioso ficar junto, cada um no seu mundo? Taí um grande amor. Sabe aquele passear de mãos dadas cada um vendo suas vitrines, suas flores, suas pessoas engraçadas? Que beleza de amor tão grande. Então, olhe para quem está do seu lado, ou para quem esteve por mais tempo ali, e tenha certeza de que esse é um seu grande amor. Aquele amor que lhe fez mofar o travesseiro de tantas lágrimas, ou beber todo o bar da sua casa e mais o da esquina, que lhe amolecia as pernas e os neurônios, não foi um grande amor, foi um grande desamor. O que deu certo, o que dá certo, é o amor do brincar de trançar os dedos e de fazer jogo do sério... vida a fora. E até soltar pum na frente do outro (menos embaixo dos lençóis). O verdadeiro amorômetro seria o dos dias de paz estirado no sofá em frente à um bom filme, é o das noites em que um lava e outro enxuga a louça ouvindo um cd novo; ou quando juntas duas almas se deliciam lendo poesia ou viajam lendo Rubem Braga; ou ainda quando fazem o mais normal, corriqueiro e delicioso papai e mamãe, com direito a piloto automático e tudo, e depois ressonam em paz. Então, não meça seus amores pelas suas dores. O grande amor você conta pelos sorrisos, pela paz e pela doce rotina de estar com quem você gosta de estar, só por estar. O grande amor é eleição que não se perde nunca.

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